Menino Jesus:
Estamos a viver mais um aniversário do teu nascimento, que ao longo dos séculos tem sido celebrado das mais diversas formas.
Foi a partir do Concílio de Niceia, 325 d.C., por influência do Imperador Constantino que se deu grande realce ao teu nascimento. A data de 25 de Dezembro terá sido fixada no ano de 440, não por ser o dia do teu nascimento que provavelmente ocorreu em outubro, mas para cristianizar o culto pagão ao deus sol, na passagem do Solstício do inverno para o Equinócio de Primavera. Todavia, haveriam de passar alguns séculos até que Francisco de Assis, em 1223, reconstituíu, em argila, a cena da natividade, em noite fria nos arredores de Belém.
Mais tarde, já no século XVI, e por influências milenares de povos antigos que consideravam o pinheiro como simbolo da divindade, decorou-se a primeira árvore de Natal, na Letónia, e logo a iniciativa se estendeu pela Europa e chegou à América do Norte, levada pela emigração.
O efeito cénico do presépio que São Francisco pretendeu servisse para catequizar os cristãos das zonas rurais, foi, séculos depois, aproveitado pela civilização industrial, cujo desenvolvimento teve por base o crescimento do consumo.
É neste patamar que nos encontramos, Menino Jesus, pese embora os excessos e as diferenças que a humanidade não consegue controlar, por causa dos egoismos, das injustiças e da ganância, do poder e do dinheiro que não olham a meios para atingir os fins, ao contrário do que tiveste como norma de vida: “Não vim para servir-me mas para servir e dar a vida por todos.”
Estes são obstáculos à simplicidade que se aprende ao olhar o teu presépio. Na beleza daquele quadro bíblico a que ninguém fica indiferente e que os artistas plásticos e compositores souberam redesenhar e musicar, há traços de divindade e de humanidade que só Deus soube incarnar em Jesus.
Neste tempo de incerteza em que vivemos, porque os ambientes de guerra são originados por situações de falta de liberdade, da perda de direitos fundamentais à vida, ao trabalho, à educação e à saúde, pela falta de carinho e de compreensão no seio das famílias, por atropelos à liberdade religiosa, ao reconhecimento do direito à diferença e à felicidade de todos os homens, - neste tempo de incertezas, dizia – é cada vez mais urgente que os homens, sobretudo os que têm mais responsabilidades sociais e políticas, parem junto ao presépio. Não para idolatrarem a sua imagem pública, mas para aprenderem que “se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último e ser aquele que serve a todos.”(Marcos, 9,30-37).
É esta a mensagem natalícia que nos apresenta o presépio. Não o apelo ao consumismo do supérfluo e ao esbanjamento, mas à partilha de bens com outros homens que clamam por justiça e por equidade de direitos.
Do presépio retiramos ensinamentos de humildade e simplicidade que tão afastados estão dos códigos sociais, onde o oportunismo suplanta a igualdade de oportunidades, a arrogância esmaga a equidade e o autoritarismo extermina o diálogo e a sã convivência.
Menino Jesus:
Tu, que conheces melhor que ninguém as virtudes e os defeitos de cada um, faz que sejamos sobretudo homens bons e solidários, atentos aos que mais precisam de amor, de justiça, de pão e de paz, para que continue a valer a pena teres nascido entre nós para salvar todos os homens.
Parabéns e obrigado por teres nascido e por continuares disponível para entrar no coração de cada homem, apesar dos seus defeitos e virtudes.
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